Expedição em Natalândia, NO de Minas Gerais.


Natalândia é um município situado no noroeste de Minas Gerais, a 585 km de Belo Horizonte 266 km de Brasília e 998 km de São Paulo.

No final de dezembro de 2020, foi organizada uma expedição pelo GREGEO (Grupo de espeleologia da Universidade de Brasília), com a finalidade de realizar um levantamento do potencial espeleológico da região, sendo este um dos projetos ganhadores de um edital promovido pela SBE em 2020, com a finalidade de ampliar o conhecimento das regiões espeleológicas brasileiras. Para esta primeira expedição, o GREGEO convidou o Meandros Espeleo Clube de São Paulo, com o objetivo de dar apoio na parte de mapeamento das cavernas que seriam eventualmente localizadas. Alguns integrantes do EGB também participaram da atividade.Nesta primeira expedição foram mapeadas 3 cavernas sob a coordenação da equipe do Meandros, sendo que não houve tempo para finalizar a topografia da maior delas, a Lapa da Pantera.

Entre os dias 13 e 20 de fevereiro de 2021, foi então organizada uma segunda expedição, coordenada pela espeleóloga Leda Zogbi (Meandros), com a finalidade de continuar o mapeamento da Lapa da Pantera e documentar outras cavernas da região. Esta segunda expedição contou com a participação de espeleólogos de São Paulo (Meandros) e de Brasília (EGB), infelizmente a equipe do GREGEO não pode estar presente. Também contou com o apoio do poder público de Natalândia, pelo intermédio do Sr. Leandro dos Reis Marques, que cedeu o espaço da escola municipal para acampamento da equipe.

A região se caracteriza pela presença de grandes afloramentos de calcário, formando longas cadeiras de montanhas paralelas, no sentido NO-SE. Entre elas, pastos para o gado e áreas de agricultura. Os paredões, muitas vezes abruptos, desvendam entradas em diversas alturas, muitas delas decoradas por belas pinturas rupestres. Em uma gruta no município vizinho de Unaí (Caverna do Gentio) foi descoberta uma múmia de 3.500 anos, o que pode revelar importantes informações sobre a ocupação humana na região.

Conforme previsto, foi dada continuidade no mapeamento da Lapa da Pantera. Logo na entrada, a caverna apresenta diversas pinturas rupestres, com figuras de homens, animais e figuras geométricas. A caverna possui diversas entradas todas interligadas, dentre as quais uma com 73 m de largura. Ela se desenvolve em diversos níveis, e no fundo foram encontrados vestígios de uma antiga exploração mineral. Observamos que foi removido muito sedimento em diversos condutos, provavelmente salitre, que era usado antigamente para a fabricação da pólvora. Para facilitar o trabalho dos mineiros, foram instaladas passarelas e escadas de madeira de peroba, muito dura, que resistiram bem ao tempo. Encontramos alguns vestígios, como uma garrafa de vidro grosso quebrada, uma cabaça e um utensílio de madeira. Seria muito importante descobrirmos a história de exploração da cavidade.

A caverna forma um enorme labirinto 3D, como um cupinzeiro gigante, e é habitada por uma grande colônia de morcegos, que deixa seu guano por toda parte. A visitação dessa área interna sem o mapa (que ainda está em eleboração) é fortemente desaconselhada. Trabalhamos mais dois dias na caverna, com três equipes de topografia, mas ainda restam alguns trechos a serem verificados para a conclusão do mapa.

Foto Leda Zogbi
Foto Daniel Menin
Foto Daniel Menin
Foto Daniel Menin

Entre as descobertas desta segunda expedição, destaca-se a caverna do Alto da Serra, a ressurgência de um grande rio subterrâneo, com aproximadamente 15 m de largura. A caverna possui trechos muito ornamentados, com belos lustres de estalactites, grandes colunas muito brancas com chãos de estrelas, dentre outras maravilhas. Ela possui também um grande salão desmoronado, com blocos gigantescos, e duas claraboias. Próximo da entrada, encontramos utensílios de acampamento: segundo o responsável que nos levou até a caverna, algumas pessoas vêm todos os anos em janeiro para ficar quatro dias acampados na caverna, e deixam lá seus apetrechos. Mapeamos a caverna por três dias, mas também não houve tempo para finalizar a sua topografia.

Foto Daniel Menin
Foto Daniel Menin
Foto Daniel Menin
Foto Daniel Menin

Vale citar também que, após 3 horas de busca, localizamos uma caverna bastante interessante: um pequeno buraco, ao lado de um pasto, que dá acesso a uma complexa rede subterrânea. A caverna Riacho dos Cavalos se caracteriza por diversas salas e condutos interligados. Também se desenvolve em vários níveis e possui algumas salas bem ornamentadas. Mais uma vez, a caverna nos surpreendeu e o tempo não foi suficiente para finalizar o mapeamento.





Por fim, foi realizado um trabalho de documentação fotográfica das cavidades da região coordenado pelo espeleólogo e fotógrafo subterrâneo Daniel Menin. Foram retratadas as cavernas Lapa da Pantera, Alto da Serra, e as cavernas Seis Bocas e Fazenda Columbia, estas duas últimas mapeadas durante primeira expedição. A caverna Fazenda Colúmbia é um importante sítio arqueológico, com belas pinturas rupestres, com destaque para belos veados pintados em branco no teto.

Foto Daniel Menin
Foto Daniel Menin
Foto Daniel Menin
Foto Daniel Menin

Analisando as imagens de satélite, podemos afirmar que a região tem potencial para muitas outras expedições, com vastas áreas ainda inexploradas do ponto de vista espeleológico. Os valores histórico, cultural, cênico e científico das cavernas também são evidentes, o que pode estimular novos estudos no contexto de geoconservação, manejo, investigações científicas e educação ambiental.

Outras viagens deverão ser organizadas em breve para dar continuidade nas topografias em andamento, documentação e novas prospecções.